Na Segunda Grande Guerra Mundial, a perseguição e o extermínio dos ciganos, o holocausto nazista, cerca de 600.000 ciganos foram mortos em campos de concentração principalmente em Auschitz e Birkenau, além disso, avia 165 campos de trabalhos forçados.
Hitler e sua inspiração em Richard Wagner, compositor ultranacionalista, artista e político influente que pregava o anti-semitismo que unia a vida e a arte para a construção de um ideal de Estado Novo. Modelando-se na antiguidade, interligando arte, política e saúde. Hitler começa sua propaganda nazista, com uma espécie de maquiagem mental para o povo alemão, “arte é a saúde do espelho racial” esse era o slogan, devemos pensar no nazismo também como forma sociológica.
Judeus-------------------------------------6.000.000
Ciganos--------------------------------------600.000
Deficientes-----------------------------------200.000
Homossexuais-------------------------------100.000
Socialistas-------------------------------------50.000
Testemunhas de Jeová----------------------50.000
Total de 7.000.000 pessoas eliminadas acredita-se que outros 5.000.000 de vítimas foram eliminados por discordarem da política nazista. 12.000.000 milhões de indivíduos que perderam suas vidas por pertencerem a uma etnia, religião, facção política ou não serem fisicamente e mentalmente perfeitos.
Hitler declara:
“A guerra deverá ser de extermínio. Matem sem compaixão ou misericórdia todos os homens, mulheres e crianças de descendência ou de língua polonesa”
“ O anti-semitismo era professado por todos os grupos e associações que pregavam o nacionalismo militante, a expansão imperial, o racismo, o anti-socialismo e a defesa de um governo forte e autoritário”
Havia um campo de ciganos conhecido pelo nome de Bikernau, ali esteve grande quantidade de ciganos, todos foram exterminados em câmaras de gás, em uma única noite, cantavam e dançavam segundo a sua tradição para disfarçar a agonia final, para poder principalmente tentar distrair as crianças.
Para disfarçar a Cruz Vermelha, e convence-la de que tudo estava bem, ou seja, de que tudo ocorria perfeitamente os nazistas fizeram um cenário de ficção, os alemães diziam a comissão que os ciganos se encontravam presos por serem boêmios e vagabundos, não podendo assim transitar junto ao povo alemão, este campo dos ciganos ficava próximo ao crematório, causando forte odor e cinzas que cobriam todo o lugar, os nazistas colocavam cobertores, para disfarçar e não permitir ser visto o crematório, o que não adiantava[5]. Esse sem dúvida foi o maior golpe contra o ego da humanidade civilizada até hoje visto. Primo Levi menciona:
“ Nunca antes tantas vidas foram extintas num tempo tão curto, e com uma combinação tão lúcida de engenhosidade, tecnológica, fanatismo e crueldade”.
Os cabelos de ciganos, judeus eram raspados para confecção de meias e cordas para navios, suas famílias separadas, filhos longe das mães, marcados como animais em cativeiro, na campanha nazista Judeus e Ciganos contaminado toda a Europa, isto fora divulgado pela imprensa de Hitler em 1933. Em 17 de Outubro de 1939 Heydrich, sob o comando de Hitler proíbe os ciganos de abandonarem seus acampamentos, fora logo após feito um recenseamento e conduzidos a campos de concentração. Dachau foi um dos primeiros campos a recebê-los, sofreram duras medidas disciplinares eram elementos que para os nazistas não poderiam fazer parte da sociedade, um slogan de 1941 diz:
“ Depois dos Judeus, os Ciganos”
“(...) Nos campos de Dachau e Buchenwald, ciganas tomavam água salgada. O objetivo era avaliar quanto tempo conseguiam viver sob semelhante dieta. A esterilização foi largamente praticada, tanto em homens como em mulheres. Os detentos também foram objeto de estudos ditos antropológicos(...)”
A Gestapo recebe ordem meramente restrita informando serem os ciganos duplamente perigosos, prejudicando a causa nazista,
Em 1941, vemos uma deportação em massa de ciganos para Lodz, em Outubro de 1941, mais de cinco mil ciganos entre eles 2.600 crianças, frio, falta de higiene, sem ajudas médicas com tifo, onde são eliminados inúmeros adultos e crianças, os sobreviventes deportados para Chelmo e queimados nas fornalhas ou câmaras de gás.
Experimentos químicos, mortes coletivas e individuais, crianças ciganas e judias em um único grupo com gritos, separados de seus familiares eram crianças da Boêmia, dos Carpatos, do nordeste da França, da Polônia, da Rutênia, estavam a pele e osso com feridas infecciosas, bebiam água de cobertores lavados ainda úmidos, cobertores de pessoas que já haviam falecido de doenças sérias, isso causava estomatites cancerosas e putrefação da carne á boca, poderiam ser observadas em Auschwitz, os ciganos matriculados, num total de 20.933 mil e mais 360 crianças nascidas no campo de concentração no começo de agosto de 1944, quatro mil ciganos foram mortos nestes momentos, pessoas ajoelhadas imploravam pela vida sem resultado, os prisioneiros andavam sob seus dejetos até aos calcanhares, talvez estes dados sejam inferiores às cifras reais.
“ As roupas eram marcadas por triângulos de diferentes cores, com a finalidade de identificar a procedência dos prisioneiros: O Triângulo rosa dos homossexuais; a dos prisioneiros políticos eram vermelhos; o dos assassinos verde; a dos ciganos e marginais preto; padres e testemunhas de Jeová era roxo; os judeus usavam estrelas de Davi “
Houve ciganos que traíram seu povo, é o caso do cigano de nome Flossenbürg:
“ O kapo de nome Karl, era um sádico doentio Usava triângulo vermelho no uniforme, indicando que era prisioneiro político, mas, na verdade era um assassino. Ás vezes, durante a formação, esse detestável Kapo ordenava que abríssemos a boca e cuspia dentro. E quem fizesse expressão de nojo era assassinado na hora. Karl tinha um ajudante, um cigano alemão que não era melhor que seu chefe. Diziam até que era um condenado à morte por assassinato, mas escapara de ser executado. (...) Cada grupo de trabalho era comandado por um Kapo, um dia, pedi permissão ao guarda do meu grupo para ir urinar adiante nos escombros. Em um grupo estava próximo um Kapo que era cigano de Flossenbürg, o ajudante de Kapo Karl”.
Até em 1944, quinhentos e cinqüenta mil pessoas haviam sido mortas em Auschwitz, em meados daquele ano chegaria a aumentar trezentos mil.
No campo de Birkenau, as câmaras de gás queimavam messes a fio, mesmo estando no frio ou calor á fábrica da morte não cessava, começaram a criar covas para a cremação, pois os fornos não mais davam conta da mortandade.
Neste complexo a oeste de Birkenau cerca de cem judeus e quatro a cinco alemães faziam funcionar os fornos crematórios, nas câmaras de gás usavam o Ziklon B, efetivo apenas a uma temperatura de 27° graus centígrados, está era a triste tarefa dos prisioneiros, que eram obrigados a ajudar na monstruosa tarefa, sendo chamados de sonoderkommando (aqueles que recolhiam os corpos das câmaras de gás para queimá-los).
Neste campo os prisioneiros viviam nas piores condições como observamos no testemunho do cigano Franz Rosenbach (prisioneiro cigano de Auscwitz):
“_As condições eram terríveis, havia doentes nos barracões e ficava todo mundo junto. As crianças gritavam: Mãe tenho fome, quero comer e beber. Mas não podiam beber água por causa do tifo.”
Vinte e um mil dos Vinte e três mil ciganos mandados para Auscwitz foram mortos, Franz Rosenbach completa:
“_ Cada coisa... o que faziam conosco nos deixava
perplexos. Éramos espancados, chutados, humilhados sem saber o porque! “Não tínhamos idéia, só porque éramos diferentes...”
Os Nazistas passavam á propaganda dos ciganos serem anti-sociais, desprezando assim seu modo de viver e ser. Na noite de 2 de Agosto de 1944, acontece a mais apavorante noite de Auscwitz “o massacre cigano”. Repletos de gritos, choros, sons apavorantes, muita fumaça dos crematórios, choravam, pois sabiam para onde estavam indo, assim relata o ouvinte Wladyslan Szmyt (prisioneiro em Auscwitz).
“_ No campo dos ciganos, estes se defendiam até o fim mordiam, arranhavam os alemães, se defendiam como podiam, as crianças eram jogadas em caminhão, se pulassem seus membros eram quebrados braços e pernas para não mais saírem dos caminhões.”
Em outono de 1944 quase todos os ciganos haviam sido exterminados de Auscwitz.
Havia as pesquisas do Dr. Josef Menguele, nascido na Bavária, atuou como autor teatral na adolescência, com lucros do qual doou a orfanatos, seu pai era engenheiro industrial, Menguele desde novo mostrava aos amigos não querer apenas o sucesso, mas se destacar dos demais, da multidão. Em sua formação era fascinado pela genética de anormalidades dominantes. Em 1937 se filia ao partido nazista, e logo depois a S.S, recebe nesta mesma época um segundo doutorado por seu trabalho. Em junho de 1940 é recrutado para o exército e as Waffen-SS.
Ao chegar a Birkenau, no dia 30 de Maio de 1943, Mengele era o médico chefe do campo das famílias ciganas. Se sobressai de outros médicos por sua ambição, crueldade, empolgação e carisma. Criava assim circo humano particular, para experiências.
Mengele selecionava gêmeos, corcundas, hermafroditas, anões, obesos em potencial, mulheres corpulentas (grandes), gigantes, cabeças de alfinete, qualquer anomalia de crescimento era quesito para a seleção de Mengele. Sua enfermeira particular Sara Nomberg Przytyk em Birkenau dizia: “ Aqueles que não foram criados a imagem de Deus”.
O Dr. Jan Cespiva (Ex-prisioneiro Auschwitz) diz:
“_ Pude ver com meus próprios olhos como ele Menguele infectava gêmeos com tifo na enfermaria do campo dos ciganos, para saber se os gêmeos reagiriam do mesmo modo ou diferentemente, pouco tempo depois eram enviadas as câmaras de gás.”
O Dr. Jan Cespiva testemunhou contra Mengele em 1963.
Com isso o polonês Wilhem Brose (prisioneiro Judeo) fotografou ciganos com faces gangrenosas.
O cigano Karl Stojka um cigano na época com 14 anos, chegara a Buchenwald, em meio a centenas de ciganos classificados por não serem aptos a trabalhar. Enviados em seguida para Auscwitz, o irmão e tio de Karl, falaram falsamente que ele era um adulto anão e não uma criança, por isso Karl Stojka sobreviveu e tornou-se excelente e famoso pintor.
O principal ponto em que toco nestes detalhes do holocausto, é que nunca devemos deixar de lembrar, não podemos esquecer estes fatos que marcaram a vida de milhões de pessoas que sobrevivem até hoje de gerações dos que se sacrificaram para terem o direito de sobreviver e os que não conseguiram merecem de nós o não esquecimento, para que seus sacrifícios não sejam em vão.
Por isso discordo quando muitos receiam em falar do holocausto cigano na Alemanha Nazista, na segunda grande guerra, mostrar sim ao mundo, que apesar de tudo, estão hoje os ciganos de pé, erguidos, vivendo sua cultura e tradição, preservando seu povo e mantendo suas tradições.
Em 1945, termina a carnificina evitável da Segunda Guerra Mundial.
Os ciganos lamentam, por não participarem do processo de Julgamento de Nuremberg, não houve testemunhas ciganas, nenhum fora convidado para depor, dar seu testemunho.
A pioneira nos estudos relacionados ao holocausto Cigano, foi Myriam Novitch, historiadora do Instituto Yad Vasem, no Brasil eu Rodrigo Gevegir elaboro esta linha de pesquisa como pioneiro.
O primeiro congresso cigano, fora realizado na Iuguslávia, em 1971, onde fora criada a bandeira cigana. O segundo congresso fora em Genebra afirmando a origem indiana para os ciganos.
Fonte:http://www.2guerra.com.br/sgm/index.php?option=com_content&task=view&id=701&Itemid=32
Holocausto e os ciganos II
A mais selvagem e bárbara perseguição aos ciganos de que se tem notícia, em toda a História da Humanidade, ocorreu não em séculos passados, entre povos então ditos “primitivos” ou “selvagens”, ou no Brasil, mas em pleno Século XX, na Alemanha, país (pelo menos até então) considerado “civilizado”. As únicas vítimas do terror nazista que costumam ser lembradas, no entanto, são apenas os judeus, e quase nunca os ciganos. Enquanto hoje a bibliografia sobre o holocausto judeu é imensa, não faltando inclusive museus e memoriais especialmente construídos para lembrar este triste genocídio, o holocausto cigano sempre foi considerado um fato de menor importância. Os documentos históricos provam que não foi bem assim e que, lamentavelmente, ao lado de cerca de seis milhões de judeus, nos mesmos campos de concentração, nas mesmas câmaras de gás, nos mesmos crematórios, ou então fora deles num lugar qualquer da Europa, foram massacrados também cerca de 250 a 500 mil ciganos. Só recentemente começaram a ser publicados ensaios, inclusive por autores alemães da geração pós-guerra, sobre este “holocausto esquecido”, o holocausto cigano, que os intelectuais ciganos de hoje preferem chamar de ‘poraimos’, para diferenciá-lo do holocausto judeu.
Gilsenbach cita três fatores que facilitaram a perseguição aos ciganos na Alemanha antes e durante a II Guerra Mundial: o já tradicional ódio dos alemães e de outros europeus aos ciganos, existente já desde o Século XV; os arquivos desde o final do Século XIX existentes sobre ciganos na polícia criminal e as teorias de antropólogos, psiquiatras e médicos sobre “higiene racial” e “biologia criminal”. O tradicional ódio aos ciganos já foi visto anteriormente; os outros dois fatores, e principalmente o último, precisam de alguns comentários.
No início do Século XX, as políticas (anti)ciganas alemãs não foram idênticas em todo o país, mas cada Estado ou Província [Land] inventava as suas. Em Munique, na Bavária, já em 1899 criou-se um Serviço de Informação Cigana que registrava todos os ciganos do Estado. Em 1905 o seu diretor, Alfred Dillmann, publicou os primeiros resultados no Zigeunerbuch [O Livro Cigano, também vendido nas livrarias] que continha o registro, com uma dezena de dados pessoais, de 3.350 ciganos e que se destinava a ajudar a polícia na ‘erradicação da praga cigana’.
Em 1925/26 a Bavária editou uma lei que tornou obrigatória a vida sedentária e condenou a dois anos de trabalhos forçados ciganos não regularmente empregados, lei que em 1929 passou a ser válida na Alemanha toda. Mas já em 1927, todos os ciganos alemães foram obrigados a andarem sempre com um documento de identidade, com retrato, impressões digitais e outros dados pessoais. Alguns anos depois foi criado o Serviço Central de Combate à Praga Cigana, órgão nacional que incorporou o Serviço de Munique e outros semelhantes então existentes, e passou a ser dirigido pelo mesmo Dillmann, que em pouco tempo reuniu informações sobre mais de trinta mil ciganos alemães. Este Serviço anti-cigano foi extinto em 1947, mas recriado em 1953, embora com outro nome; definitivamente extinto foi somente em 1970, vinte e cinco anos após o término da II Guerra Mundial!
O Serviço alemão de Combate à Praga Cigana, sem dúvida alguma, foi o mais eficiente do mundo e poucos ciganos devem ter escapado de seus registros. No entanto, também em outros países foram realizados recenseamentos ciganos, foram criados cadastros permanentes da população cigana e criadas leis para evitar ou, pelo menos, controlar a sua presença no país. Até a famosa Interpol (na época chamada Comissão Internacional de Polícia Criminal) criou em 1936, em Viena, um Centro Internacional para a Luta contra a Praga Cigana, cujos arquivos foram destruídos em 1945. Ou seja, quando em 1933 os nazistas chegaram ao poder, tanto na Alemanha quanto em vários países vizinhos (p.ex. França e Holanda) que depois seriam ocupados, a maioria dos ciganos já estava devidamente registrada e identificada, e já existiam políticas anti-ciganas.
A diferença era que agora os ciganos passaram a ser perseguidos - e depois exterminados - também por motivos raciais, e não apenas por serem considerados associais ou criminosos natos. Embora os alemães tenham negado isto após a II Guerra Mundial, quando foram obrigados a pagar indenizações às vítimas perseguidas por motivos raciais (admitindo-se como caso único os judeus), e embora tenham sempre afirmado que os ciganos foram perseguidos por serem “associais”, e não por serem de uma raça diferente, não resta a menor dúvida que ambos os fatores pesaram na perseguição. Muitos documentos e ensaios “científicos” da época comprovam, sem sombra de dúvida, que não somente os judeus, mas também os ciganos eram considerados membros de “raças” diferentes consideradas perigosas, porque poderiam contaminar a pureza racial ‘ariana’. Para esta justificativa “racial”, a Alemanha pôde contar com vários médicos, biólogos e antropólogos.
Já em 1904 o antropólogo Alfred Ploetz fundou um “Arquivo para Raciologia e Biologia Social”, que no ano seguinte virou “Sociedade para Higiene Racial”. Anos depois, os antropólogos Bauer, Fischer e Lenz publicaram um manual sobre Genética Humana e Higiene Racial, que foi lido por Hitler quando, prisioneiro em 1924, escreveu Mein Kampf, a futura biblia nazista.Não pretendemos citar aqui todos os institutos alemães na época considerados ‘científicos’, ou todos os biologos, antropólogos e outros cientistas que na época se dedicaram a pesquisas raciais, eugenéticas e ciganas, porque estes dados encheriam algumas dezenas de páginas. Dois nomes, no entanto, merecem destaque, porque são citados por praticamente todos os autores que tratam desta época: o médico psiquiatra Robert Ritter e sua assistente, a enfermeira Eva Dustin, entre os ciganos Sinti mais conhecida como Lolitschai, “a moça ruiva”.
Em 1937 Ritter se tornou diretor do Centro de Pesquisa para Higiene Racial e Biologia Populacional, com sede em Berlim, onde se dedicou intensivamente às pesquisas ciganas. Somente o nome deste Centro já é suficiente para provar que os ciganos eram considerados uma “raça’ diferente. Neste Centro, entre outras coisas, Ritter investigava uma suposta relação entre hereditariedade e criminalidade, elaborando complicadas árvores genealógicas de ciganos para medir o grau de ‘mistura racial’, para o que utilizava inclusive os dados do já citado Serviço de Informação Cigana de Munique, que foram transferidos para Berlim.
Ritter e os membros de sua equipe eram defensores da “eugenética”, ou “higiene racial”, segundo a qual devia ser evitada a procriação de elementos nocivos à sociedade. Entre as pessoas nocivas estavam não apenas os deficientes físicos e mentais, mas também os “associais hereditários” (mendigos, vagabundos, prostitutas, alcoólatras, homosexuais, desempregados crônicos, e.o., como se estas características fossem transmissíveis hereditariamente!), e as minorias raciais nocivas, como os ciganos e os judeus. Para “limpar” a raça humana, Ritter e outros tantos “eugenéticos” da época inicialmente propunham a esterilização destas pessoas (a total eliminação física só seria proposta alguns anos depois). Estima-se que na Alemanha nazista cerca de 400.000 pessoas foram esterilizadas, entre as quais muitos ciganos.
O mesmo aconteceu, por sinal, também em outros países, inclusive nos Estados Unidos, onde até 1939 comprovadamente cerca de 30.000 pessoas “indesejáveis” foram contra a sua vontade esterilizadas. Mas estes tristes episódios, como também os vergonhosos campos de concentração para japoneses e seus descendentes nos Estados Unidos, durante a II Guerra Mundial, os historiadores americanos preferem ‘esquecer’, principalmente nos livros didáticos e, oficialmente, ‘nunca aconteceram’.
Foi nesta época que os biólogos alemães tentaram deseperadamente descobrir, com fins práticos, quais eram as características “raciais” ciganas, já que na maioria dos casos era impossível distinguir os ciganos do resto da população alemã através de características físicas específicas. Mas mesmo Ritter e seus colegas nunca foram capazes de descrever estas características. Daí porque, na Alemanha daquele tempo, era classificado como “Z” (de “Zigeuner”), ou seja “cigano puro” todo indivíduo com quatro ou três avós “verdadeiros ciganos”; como “ZM+” ou mestiço em primeiro grau era classificado quem tinha menos do que três avós “verdadeiros ciganos”; “ZM-” era o mestiço em segundo grau que tinha pelo menos dois avós “ciganos-mestiços”; avó ou avô “verdadeiro cigano” era aquele que sempre tinha sido reconhecido, pela opinião pública, como “cigano”. Ou seja, no final das contas tratava-se de critérios subjetivos, e não científicos. Ritter chegou a classificar “racialmente” cerca de 25 a 30 mil ciganos alemães, mas a quase totalidade era, segundo ele, formada por mestiços, ou seja, eram candidatos à esterilização, confinamento em campos de concentração e, finalmente, extermínio.
No início dos anos 40 alguns nazistas intencionavam ainda conservar para a posterioridade uma “amostra” de Sinti “puros”, melhor dito, oito famílias Sinti e uma família Lalleri, que seriam confinadas numa espécie de “reserva cigana” a ser criada na Hungria e administrada pelo Instituto do Patrimônio Histórico. Esta “reserva cigana” nunca chegou a se tornar realidade; no final, também estes ciganos “puros” terminaram nos campos de concentração ou de extermínio. Em 1940, Ritter escreveu num relatório:
“Fomos capazes de provar que mais do que 90% dos assim chamados ciganos nativos são mestiços...... Outros resultados de nossas investigações permitem-nos caracterizar os ciganos como um povo de origens etnológicas totalmente primitivas, cujo atraso mental os torna incapazes de uma real adaptação social..... A questão cigana só pode ser resolvida reunindo o grosso dos mestiços ciganos associais e imprestáveis em grandes campos de trabalho e mantendo-os trabalhando, e parando para sempre a futura procriação desta população mestiça”.
Para cada cigano, Ritter emitia então um “Certificado”, assinado por ele pessoalmente ou por sua assistente Eva Justin, no qual constavam além do nome e dados pessoais, o grau de ciganidade. Quase sempre o diagnóstico era: “mestiço cigano”, o que na prática correspondia a uma condenação à esterilização ou à deportação e internação (e posterior extermínio) em campos de concentração.
Eva Justin, na época, era apenas uma simples enfermeira, sem qualquer formação acadêmica, mas que apesar disto sonhava com o título de Doutor, e para obtê-lo escreveu uma ‘tese’ sobre a suposta inadaptabilidade social de crianças ciganas, estudando durante apenas seis semanas um grupo de crianças ciganas internadas numa espécie de orfanato, sem contato com seus pais ou outros ciganos adultos. Obviamente chegou à conclusão que a boa educação recebida neste internato de nada adiantou e que as crianças continuaram tão associais como antes; para ela, crianças ciganas eram simplesmente incorrigíveis, eram associais e criminosos natos.
A “tese” foi defendida em 1943, na Universidade de Berlim. Poucos dias após a obtenção do diploma, as 39 crianças ciganas do orfanato, as cobaias de sua pesquisa e que até então tinham sido poupadas, foram deportadas para Auschwitz; somente quatro sobreviveram.
A partir de 1942 os métodos eugenéticos (esterilização e confinamento) foram substituídos por outro, considerado mais eficiente: o genocídio, ou seja a eliminação física destas pessoas, nos campos de concentração e fora deles. Em dezembro de 1942, Himmler ordena enviar todos os ciganos alemães para Auschwitz-Birkenau, então dirigida por Josef Mengele, onde foi instalada uma seção com 40 barracas só para ciganos, ordem depois repetida nos territórios ocupados. Dos 23.000 ciganos internados no campo de extermínio de Auschwitz, cerca de 20.000 morreram e uns 3.000 foram transferidos para outros campos. Os últimos ciganos de Auschwitz, conforme a metódica contabilidade alemã exatamente 2.897, foram todos enviados para as câmaras de gás na noite de 2 de agosto de 1944.
Também outros campos de concentração receberam ciganos, embora em número menor do que Auschwitz. Bernadac publica quase três centenas de páginas com testemunhos de ciganos internados em vários destes campos de concentração. Nem todos eram campos de extermínio e possuíam câmaras de gás e crematórios, mas nem por isto eram menos desumanos. Em Bergen-Belsen, por exemplo, os internos, entre os quais muitos ciganos, eram lentamente assassinados por inanição, sendo os mortos enterrados em enormes valas perto do campo. Quando Bergen-Belsen foi tomado pelos ingleses, em 1945, encontraram cerca de 10.000 corpos ainda insepultos, e cerca de 40.000 pessoas ainda vivas, das quais pouco depois ainda morreram umas 13.000, em parte por causa dos maus tratos e doenças anteriores (em especial o tifo), em parte também por causa da super-alimentação logo dada pelos bem intencionados ingleses, mas que muitos dos subnutridos já não conseguiram mais digerir. Fatos semelhantes foram registrados também em outros campos de concentração. Exércitos não costumam levar também nutricionistas, e por isso, na época, ainda não se sabia – ou pelo menos os soldados e oficiais ainda não sabiam - que pessoas altamente subnutridas também podem morrer por causa de repentina super-alimentação.
Na França existiam até campos de concentração somente para ciganos, administrados pelas próprias autoridades francesas. Não se tratava de campos de extermínio, mas quase sempre de campos de trabalhos forçados e por serem campos em geral pequenos, para uma centena até alguns poucos milhares de pessoas, as condições de vida eram, em geral, melhores do que nos campos administrados pelos alemães. Bernadac chama estes campos, apropriadamente, “as antecâmaras francesas de Auschwitz”, porque principalmente no final da guerra, muitos dos 30 mil ciganos internados nestes campos franceses foram deportados para os campos de extermínio existentes na Alemanha e em outros países.
O tratamento desumano, as terríveis experiências médicas, as câmaras de gás e os crematórios, e outros tantos horrores cometidos pelos alemães nestes campos de concentração, supomos suficientemente conhecidos por todos. Estima-se que 250 a 500 mil de ciganos foram assassinados pelos nazistas. Os números exatos nunca serão conhecidos, mas todos os documentos provam que os judeus não foram as únicas vítimas da perseguição racista pelos nazistas. A única diferença é que o holocausto judeu, e com justa razão, até hoje sempre costuma ser relembrado e não faltam memoriais para lembrar isto, inclusive em Auschwitz. O holocausto cigano, no entanto, costuma ser varrido debaixo do tapete, costuma ser simplesmente ignorado ou esquecido, como algo de menor importância, ou pior ainda como algo que nunca aconteceu, e praticamente não existem monumentos que lembram o holocausto cigano.
A II Guerra Mundial terminou há pouco mais de meio século. Centenas de milhares de judeus receberam indenizações do governo alemão, e o povo judeu recebeu uma Pátria nova (Israel 1948). Os ciganos nunca foram indenizados e nunca receberam nada, sob a alegação de que foram perseguidos e exterminados não por motivos “raciais”, mas por serem associais e criminosos comuns; outros tiveram seus pedidos de indenização negados porque não conseguiram apresentar os testemunhos necessários.
Todas as pesquisas de Ritter e outros sobre as características raciais dos ciganos, suas medições físicas, suas amostras de sangue, as crueis experiências biológicas de Mengele com ciganos em Auschwitz, foram de repente esquecidas. Preferiu-se esquecer ainda circulares oficiais como uma já de 1938, sobre “O combate à praga cigana”, que afirmava: “A experiência até agora acumulada no combate à praga cigana e os resultados da pesquisa biológica-racial mostram que é recomendável abordar a regulamentação da questão cigana do ponto de vista racial”, como de fato aconteceu depois.
O famoso Tribunal de Nuremberg, instituído pelos ‘aliados’ logo após a II Guerra Mundial para condenar europeus que cometeram crimes contra a Humanidade, concentrou suas atividades em crimes contra judeus, mas não há registro de criminosos de guerra condenados por crimes cometidos contra ciganos. Inúmeros judeus – e com toda a razão – tiveram oportunidade para apresentar seus depoimentos e suas denúncias, mas nenhum cigano foi convocado ou aceito para depor ou para denunciar.
Antes pelo contrário, alguns conhecidos e comprovados criminosos anti-ciganos (mas não anti-judeus!) foram até promovidos: Robert Ritter e Eva Justin, por exemplo, foram considerados inocentes e após a guerra viveram ainda um bom tempo exercendo tranquilamente a profissão! Em sua defesa foi alegado que os dois nunca mataram pessoalmente um cigano! Que comprovadamente mandaram dezenas de milhares de ciganos para a morte com seus pseudo-científicos “Certificados de Ciganidade”, não foi levado em consideração. Em 1947 a prefeitura de Frankfurt contratou Ritter como psiquiatra infantil, e no ano seguinte Eva Justin foi contratada como psicóloga criminal e infantil, para cuidar - imaginem só! - da re-educação de crianças associais e desajustadas, muitas das quais certamente vítimas da guerra.
Ainda hoje o holocausto cigano é pouco conhecido do grande público. Também em documentários e em comemorações das vítimas do holocausto nazista, ou em monumentos construídos em sua homenagem, sempre são lembrados apenas os judeus, e nunca os ciganos. Pelo contrário, mesmo depois da guerra os ciganos continuaram sendo discriminados da mesma forma, ou talvez até pior do que antes. Atualmente, no entanto, em livros e revistas que tratam do holocausto, está se tornando ‘politicamente correto’ falar não apenas dos judeus, mas também dos ciganos, enquanto também o número de livros e artigos que tratam do assunto está aumentando sempre mais.
Mesmo depois da guerra, os ciganos continuaram sendo discriminados da mesma forma, ou talvez até pior do que antes. Principalmente nos círculos policiais, todas as antigas ideologias e imagens anti-ciganas continuaram existindo, pelo que nada mudou também nas atitudes anti-ciganas, excluindo-se apenas o genocídio. Os ciganos continuaram pessoas indesejadas e odiadas em toda a Alemanha. Até vários dos assim chamados ‘ciganólogos’ alemães continuaram publicando ensaios nitidamente anti-ciganos.
Ainda hoje, mais de cinquenta anos depois da II Guerra Mundial, pouca coisa mudou. Na decada de 90, após a reunificação das duas Alemanhas (Ocidental e Oriental) e o fim da União Soviética, a Alemanha se tornou o país preferido por dezenas de milhares de refugiados e migrantes do Leste, entre os quais muitos ciganos, principalmente da Romênia e da ex-Iugoslávia. Jansen informa que: "de 1989 a 1990, o número de refugiados vindos da Romênia cresceu mais de dez vezes, de cerca de 3.000 para 35.000. Dois terços deles são Roma. Somente no mês de outubro de 1992, foram registrados na Alemanha 15.000 refugiados da Romênia". Em 1992/93 o governo alemão pagou ao governo romeno mais de 25 milhões de marcos para receber de volta cerca de 50.000 cidadãos romenos, a maioria dos quais Rom. Ninguém perguntou aos Rom se eles realmente queriam voltar, e a sua ‘repatriação’ foi compulsória.
Diga-se de passagem que esta repatriação teve a aprovação também de muitos Sinti, ciganos com nacionalidade alemã e há muito tempo residindo no país e quase todos bem integrados na sociedade nacional, porque temeram que a população os identificasse com os Rom do Leste, segundo eles responsáveis por todos os estereótipos e preconceitos anti-ciganos. Já vimos anteriormente que também na Holanda os ciganos holandeses tradicionais (com nacionalidade holandesa) não gostaram nada da repentina imigração de Rom do Leste, pelo que inclusive ajudaram o Governo a contrabandear ilegalmente muitos destes ciganos “estrangeiros” de volta para algum país vizinho. Comprovadamente, pelo menos na Europa, os ciganos não somente são odiados pelos não-ciganos, mas também – e o que é bem mais grave - se odeiam mutuamente.
Inclusive na Europa do Leste. Segundo Gozdziak, após 1989 muitos Rom romenos migraram também para a Polônia, um país no qual também, há muito tempo, existe uma forte discriminação anti-cigana, apesar da qual muitos antigos ciganos poloneses conseguiram integrar-se no país. Para estes tradicionais ciganos polonêses, a chegada de milhares de ciganos romenos apenas piorou ainda mais a situação: "Os Rom poloneses não se relacionam com os ciganos romenos..... ‘Eles não são meus irmãos’, diz um rom polonês, ‘... nós somos muito diferentes deles, nós não pedimos esmolas nas ruas. Nós não somos dependentes de nínguém, Nós conquistamos aqui nosso espaço. Nossas mulheres são limpas, e as crianças tomam banho. Nós construimos casas e não dormimos no chão. Os ciganos romenos nos envergonham’ ". O fato de este Rom identificar os ciganos poloneses como 'Rom', e os ciganos romenos - sem dúvida alguma Rom - apenas como 'ciganos', é apenas mais uma manifestação de discriminação cigana anti-cigana, e que, lamentavelmente, existe e foi registrada em praticamente todos os países.
Vergonha: talvez seja esta a palavra chave que explique o anti-ciganismo dos próprios ciganos em países nos quais há séculos residem e que, bem ou mal, já conseguiram integrar-se na sociedade nacional, que são sedentários, exercem alguma profissão perfeitamente legal, cujos filhos estudam, e que não são identificados ou identificáveis como 'ciganos', e por isso também não são perseguidos e discriminados.
Entende-se que a chegada repentina de centenas ou milhares de rom orientais maltrapilhos, famintos, imundos, analfabetos e que, para sobreviver, vivem mendigando, enganando ou furtando, ou até envolvendo-se em atividades ilegais como contrabando e o tráfico de drogas, é um pesadelo e uma ameaça para os tradicionais ciganos não somente na Europa Ocidental, mas também em alguns países da Europa Oriental, como a Polônia.
Se até os próprios Rom pensam assim sobre os imigrantes e refugiados Rom romenos, (ex) iugoslavos, (ex) tchecoslovacos, albaneses ou outros, não se pode estranhar opiniões e atitudes ainda piores entre a população não-cigana. Numa pesquisa de opinião pública realizada na Alemanha em 1992, os ciganos obtiveram o mais alto índice de rejeição: 64%. A rejeição de outras conhecidas minorias era: muçulmanos 17%, indianos 14% e judeus 7%.
Grande também é o número de imigrantes e refugiados da ex-Iugoslávia. Milhares de ciganos iugoslavos, que desde 1989 tentaram em vão obter asilo na Alemanha, foram depois compulsoriamente "repatriados" - eufemismo para "deportados"
É compreensível que estas massas de refugiados não sejam bem-vindas na Alemanha, como aliás em nenhum outro país europeu. Afinal de contas, por causa de tratados internacionais, todos eles devem receber alimentação, hospedagem, assistência social, assistência médica, etc., ou seja, devem ser mantidos às custas dos contribuintes não-ciganos. E tudo isto justamente numa época em que também a quase totalidade dos países europeus passa por profundas crises econômicas e têm altos índices de desemprego.
Além disto, por causa dos preconceitos já existentes, os ciganos migrantes ou refugiados do Leste quase nunca recebem a devida assistência, e por isso são obrigados a mendigar, furtar, vender drogas, etc. pelo que os preconceitos aumentam mais ainda. Porque, obviamente, muitos deles são presos e terminam nas páginas policiais dos jornais, nas quais costumam ser identificados como 'ciganos', embora os jornalistas não costumem informar nada sobre a nacionalidade ou identidade étnica dos outros milhares de criminosos presos por causa de 'crimes' idênticos ou semelhantes.
Daí porque a imprensa não se cansa de noticiar incêndios de residências ciganas e outras violências contra ciganos e contra outras minorias étnicas na Alemanha (e em vários outros países europeus), cometidas por neo-nazistas, skinheads e outros grupos ultra-direitistas, ou a repatriação forçada, pelo Governo, de milhares de ciganos para seus países de origem. Na Alemanha de hoje, apesar das belas recomendações pró-ciganas da União Européia, da qual o país faz parte, a vida dos ciganos ainda é difícil, e os tradicionais preconceitos e as centenares discriminações continuam existindo, como antes.
Fonte: Nucleo de Estudos Ciganos - Recife - Ano 2000
http://etniacigana.blogspot.com/2008/01/o-holocausto-cigano.html