Por Julia Dietrich, do Aprendiz -08/08/2007
Pessoas sem moradia fixa, com roupas coloridas, portadoras de cultura e língua muito particulares, além de associados a vagabundos, desonestos e ladrões. Quem já não ouviu, quando criança, para tomar cuidado com os ciganos? Quantas vezes não se encontram nas histórias personagens de caráter duvidoso chamados de bandoleiros?
Apesar de tudo isso, os ciganos não são lendas e constituem uma importante minoria étnica no país. Segundo a Pastoral dos Nômades, o número de ciganos no Brasil chega a 800 mil. Os primeiros grupos aportaram ainda na época colonial. Marginalizados tanto no imaginário da sociedade, quanto pelas políticas públicas, muitos foram forçados a se sedentarizar e participar da ordem vigente, mas alguns ainda mantêm as tradições, em especial na região central do país.
Segundo o ciganólogo (especialista no estudo do grupo étnico) e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) Rodrigo Corrêa Teixeira, dois diferentes grupos ciganos estão presentes no Brasil, "os Calon que migraram para o país, voluntária ou compulsoriamente, a partir do século XVI, e os Rom que, ao que tudo indica,migraram para o Brasil somente a partir de meados do Século XIX",explica.
Preservação da língua
Especialmente preocupado com o idioma da população cigana, o lingüista Fábio José Dantas de Melo se dedica ao estudo do grupo dos Calon, presente em Mambaí, no nordeste do estado de Goiás. Há pouco mais de 30 anos o grupo deixou de ser nômade e hoje já reúne duas mil pessoas,organizadas em 114 famílias.
"Foi um longo processo até convencê-los da importância de preservar a língua. Eles se sentiam ameaçados deterem seus códigos desvendados", conta Melo, lembrando que o preconceito por parte da sociedade faz com que os ciganos desconfiem e temam aqueles que não pertencem ao grupo.
"Não é permitido ensinar a língua aos gadjo (não-ciganos)", conta Melo, explicando que, justamente, a língua é uma maneira deles se manterem vivos, unidos e em constante contato com a cultura.Como é um idioma ágrafo (que não pode ser escrito), o dialeto é ensinado de pai para filho. "Muitos jovens já começaram a misturar as línguas. Pelo próprio processo de sedentarização, pela vontade de integração e mesmo por identificação com modismos da sociedade como um todo, os jovens estão perdendo o contato e a vontade de resgatar a própria língua", explica.
"É preciso incentivar o falante nativo o estudo da sua própria língua", diz Melo que desenvolve em parceria como chefe do grupo Dálcio Alves da Silva, uma associação cultural que garante a preservação da história e costumes do grupo que vieram inicialmente da Índia e passaram pela Península Ibérica para chegar ao Brasil. "As pesquisas indicam que até 1900 eles apresentavam um nomadismo muito forte, mas com as perseguições governamentais e a dificuldade de se estabelecer, eles acabaram se sedentarizando", lembra.
Preconceito
Também não é à toa que eles se sintam perseguidos e coagidos, pois no imaginário brasileiro os ciganos são constantemente associados a ladrões, indecentes e vadios. Em seu trabalho, o pesquisador Rodrigo Teixeira buscou desmistificar essas compreensões. "Como os ciganos não tinham empregos tradicionais e eram nômades, passaram a ser considerados, inclusive pela legislação imperial brasileira, como vadios e tidos como impossíveis de integração", explica.
Sobre o mito de que os ciganos roubam crianças, Melo cita o estudo de Teixeira e explica que muitos grupos eram ligados às artes circenses e quando passavam pelas cidadelas, levando seus números de música, dança e mágica, acabavam seduzindo as crianças que decidiam seguir com eles. "As mães, ofendidas, falavam que as crianças tinham sido roubadas pelos ciganos. E a partir desta e outras acepções o imaginário contrário aos ciganos foi se formando", observa.
Cores, vestes e leis
Identificados pelo apreço à vestimenta, dentes de ouro, chapéus e botas de boiadeiro, os Calon, assim como os RoN.
Fonte pesquisada:http://www.overmundo.com.br/blogs/cultura-cigana-deve-ser-desmistificada